Neste Artigo
- O Conceito de Irregularidade Verbal: O Que a Gramática Normativa Diz
- A Armadilha da Transitividade em Verbos Irregulares
- Os 5 ‘Vilões’ das Provas de 2025
- Estudos de Caso: Análise de Tendências 2024/2025
- O Desafio dos Pronomes Oblíquos (Lhe vs. O/A)
Se você já perdeu noites de sono tentando entender por que a banca do seu concurso considerou errada uma frase que parecia perfeitamente correta, você não está sozinho. Em provas de nível superior para cargos fiscais, jurídicos e administrativos, o “português intuitivo” é o maior inimigo do candidato. A diferença entre a aprovação e a lista de espera muitas vezes reside em detalhes técnicos que a maioria ignora: a interseção perigosa entre morfologia (verbos irregulares) e sintaxe (transitividade verbal).
Neste guia definitivo, vamos dissecar como as principais bancas (FGV, Cebraspe e Vunesp) estão cobrando esses tópicos em 2024 e 2025, indo muito além do básico “quem ama, ama alguém”. Prepare-se para elevar seu nível de compreensão gramatical com base nas lições dos mestres Evanildo Bechara e Domingos Paschoal Cegalla.
1. O Conceito de Irregularidade Verbal: O Que a Gramática Normativa Diz
Antes de falarmos sobre a relação do verbo com seus complementos, precisamos entender a estrutura da “ferramenta”. Segundo a Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara, os verbos irregulares são aqueles que se afastam do paradigma de sua conjugação, apresentando alterações no radical ou nas desinências. Isso não é apenas um detalhe estético; essas alterações muitas vezes confundem o candidato na hora de identificar a regência correta.
Por exemplo, o verbo “Pôr” (antigo poer) é um verbo anômalo que arrasta consigo uma série de derivados (compor, dispor, repor) que mantêm sua irregularidade. O erro comum não é apenas na conjugação, mas em esquecer que a transitividade do primitivo muitas vezes dita a lógica dos derivados.
Tipos de Irregularidade que Caem na Prova
- Anômalos: Sofrem modificações profundas no radical (Ex: Ser, Ir).
- Defectivos: Não possuem conjugação completa (Ex: Falir, Reaver).
- Abundantes: Possuem mais de uma forma, geralmente no particípio (Ex: Aceitado/Aceito).
Dica de Mestre: Em questões da FGV, fique atento aos verbos que mudam de sentido (e consequentemente de transitividade) dependendo do contexto. A irregularidade morfológica é apenas a ponta do iceberg; a armadilha está na semântica.

2. A Armadilha da Transitividade em Verbos Irregulares
A transitividade verbal não é uma propriedade imutável do verbo, mas sim uma característica que se manifesta no contexto da oração. Como nos ensina Cegalla, a predicação verbal pode variar. O problema surge quando combinamos verbos de conjugação difícil com regras de regência estritas.
Os 5 “Vilões” das Provas de 2025
Analisando as tendências recentes de provas para Auditor e Analista, identificamos os verbos irregulares que mais geram erros de regência:
A) Haver (Sentido Existencial)
É um clássico que nunca sai de moda. O verbo haver, no sentido de existir ou indicando tempo transcorrido, é impessoal (não tem sujeito) e, crucialmente, Transitivo Direto. Isso significa que ele não aceita preposição e seu complemento é um Objeto Direto.
- Erro Comum: “Houveram muitos problemas.” (Errado: o verbo fica no singular).
- Correto: “Houve muitos problemas.” (Muitos problemas é objeto direto, não sujeito).
B) Visar
Embora regular na morfologia, comporta-se de forma “irregular” na sintaxe dependendo do sentido.
- Sentido de “mirar” ou “dar visto”: Transitivo Direto. (O gerente visou o cheque.)
- Sentido de “almejar”: Transitivo Indireto, exige preposição “a”. (O candidato visa ao cargo.)
- Atenção: No sentido de almejar, ele não aceita o pronome oblíquo “lhe”, devendo-se usar “a ele/a ela”.
C) Assistir
Outro verbo que derruba candidatos experientes.
- Sentido de “dar assistência/ajudar”: Transitivo Direto ou Indireto (preferência moderna pelo direto). (O médico assistiu o paciente.)
- Sentido de “ver/presenciar”: Transitivo Indireto (exige “a”). (Assistimos ao filme.)
- Sentido de “caber direito”: Transitivo Indireto. (Este direito assiste ao réu.)
D) Ver vs. Vir (A confusão morfológica e sintática)
No Futuro do Subjuntivo, esses verbos irregulares causam caos:
- Ver (enxergar): “Quando eu vir o relatório…” (Sim, “vir” é a forma correta do futuro de ver).
- Vir (chegar): “Quando eu vier ao escritório…”
A banca irá misturar essa conjugação com a regência. Exemplo de questão estilo Cebraspe: “No trecho ‘quando os auditores virem as irregularidades’, a correção gramatical seria mantida substituindo-se ‘virem’ por ‘verem’?” Resposta: Não, pois “virem” é futuro de “ver”. “Verem” é infinitivo pessoal.

3. Estudos de Caso: Análise de Tendências 2024/2025
O que esperar das próximas provas? As bancas estão migrando da “decoreba” pura para a análise textual.
O Desafio dos Pronomes Oblíquos (Lhe vs. O/A)
Uma tendência fortíssima é a cobrança da substituição de termos por pronomes. Para acertar, você deve dominar a transitividade do verbo irregular envolvido.
- Verbos Transitivos Diretos (VTD): Exigem o, a, os, as.
- Verbos Transitivos Indiretos (VTI): Exigem lhe, lhes (para pessoas).
Exemplo Prático:
Frase: “O diretor obedeceu o regulamento.” (Errado na norma culta)
Correção: “O diretor obedeceu ao regulamento.”
Substituição pronominal: “O diretor obedeceu-lhe.” (Pois quem obedece, obedece a algo/alguém).
Se o verbo fosse respeitar (VTD): “O diretor respeitou o regulamento” -> “O diretor respeitou-o“.
Considerações para a sua Preparação
Para garantir sua pontuação máxima em Língua Portuguesa, não estude verbos isoladamente. Ao revisar verbos irregulares, faça imediatamente o exercício de criar frases aplicando a regência correta. A gramática de nível superior exige que você enxergue o sistema: a forma (morfologia) serve à função (sintaxe). Domine esses conectores e você terá a chave para interpretar qualquer texto complexo ou resolver qualquer questão gramatical com segurança.
Autor: Prof. Carlos Mendes é especialista em Língua Portuguesa para Concursos Públicos há mais de 15 anos. Com formação em Letras e Pós-graduação em Linguística Aplicada, já ajudou milhares de alunos a conquistarem cargos de alto nível em tribunais e carreiras fiscais, desmistificando a gramática normativa com uma abordagem lógica e estratégica.