Neste Artigo
- O Peso Real da Gramática na Sua Nota
- Os 5 Erros que Mais Reprovam (e Como Evitá-los)
- O Fantasma da Crase
- A Vírgula “Respiratória” (Separar Sujeito e Predicado)
- Concordância Verbal com Sujeito Distante
- O Uso Equivocado do “Onde”
- Regência do Verbo Haver
- Diferenças de Critério: Cebraspe vs. FGV
- Estratégias de Revisão para a Prova
A redação é, sem dúvida, o divisor de águas nos concursos públicos mais concorridos do Brasil. Em 2024 e 2025, observamos uma tendência clara nas grandes bancas examinadoras (como Cebraspe, FGV e Vunesp): um rigor cada vez maior na avaliação da Norma Culta. Não basta apenas ter boas ideias e argumentos sólidos; se a execução gramatical falhar, sua nota pode despencar, custando a tão sonhada aprovação.
Para muitos candidatos, a Língua Portuguesa parece um campo minado de regras e exceções. A sensação de terminar um texto e não saber se usou a crase corretamente ou se a vírgula estava no lugar certo é angustiante. Este artigo foi desenhado para eliminar essa insegurança. Vamos dissecar, com base em dados recentes e critérios de correção atuais, os erros que mais penalizam os concurseiros e ensinar, de forma prática, como blindar seu texto contra eles.
O Peso Real da Gramática na Sua Nota
Muitos estudantes focam excessivamente no tema (conteúdo) e negligenciam a forma (gramática). No entanto, a matemática das bancas é cruel. No modelo Cebraspe, por exemplo, a nota final da redação é calculada subtraindo-se os erros gramaticais da nota de conteúdo. A fórmula básica envolve contar o número de erros (NE), multiplicar por um fator de peso e dividir pelo total de linhas escritas.
Isso significa que, em um texto de 30 linhas, cada erro de acentuação ou vírgula reduz sua nota diretamente**. Já na **FGV, conhecida por seu nível elevadíssimo de exigência em Língua Portuguesa, erros de sintaxe e regência são penalizados com severidade, muitas vezes impedindo que o candidato atinja a pontuação mínima para a classificação, independentemente da qualidade dos seus argumentos.
Os 5 Erros que Mais Reprovam (e Como Evitá-los)
Com base em relatórios de desempenho e correções de bancas de 2024, listamos os deslizes mais frequentes que você deve eliminar do seu repertório imediatamente.
1. O Fantasma da Crase
A crase continua sendo a campeã de erros. O problema geralmente ocorre por “hipercorreção” (usar onde não existe) ou esquecimento em locuções adverbiais. O erro clássico é usar crase antes de palavras masculinas ou verbos.
A Regra de Ouro: Substitua a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se o “a” virar “ao”, tem crase. Se continuar “a” ou virar “o”, não tem.
* Errado:** “O candidato deve estar disposto **à estudar muito.”
* Teste:** “…disposto **ao** trabalho muito”? Não. “Disposto **a trabalhar”. (Antes de verbo, nunca use crase).
* Certo:** “O candidato deve estar disposto **a estudar muito.”
* Errado:** “Refiro-me **a diretora.”
* Teste:** “Refiro-me **ao diretor”. (Virou “ao”, tem crase).
* Certo:** “Refiro-me **à diretora.”

2. A Vírgula “Respiratória” (Separar Sujeito e Predicado)
Um mito antigo diz que a vírgula serve para “respirar”. Esqueça isso. A vírgula é um instrumento sintático. O erro mais grave, punido com rigor pela FGV e Cebraspe, é separar o sujeito do verbo, especialmente quando o sujeito é extenso.
* Errado:** “A implementação de novas políticas públicas de saúde e educação, **são essenciais para o país.”
* Análise: Quem é o sujeito? “A implementação de novas políticas públicas de saúde e educação”. O verbo é “são”. Não pode haver barreira entre eles.
* Certo:** “A implementação de novas políticas públicas de saúde e educação **é essencial para o país.”
*Nota: Perceba também o ajuste de concordância (implementação… é).*
3. Concordância Verbal com Sujeito Distante ou Partitivo
Erros de concordância acontecem frequentemente quando o sujeito está longe do verbo ou quando usamos expressões como “a maioria de”, “grande parte de”.
* Atenção:** Em expressões partitivas (a maioria dos, grande parte dos), o verbo pode ficar no singular (concordando com o núcleo “maioria”) ou no plural (concordando com o adjunto “dos…”). Porém, para fins de concurso, a preferência pela **lógica** ou pela **ênfase deve ser mantida com consistência.
O erro fatal é na Voz Passiva Sintética (partícula “se”):
* Errado: “Vende-se casas.”
* Certo: “Vendem-se casas.” (Casas são vendidas. O sujeito é “casas”, logo o verbo vai para o plural).
4. O Uso Equivocado do “Onde”
Em 2025, os corretores têm tolerância zero para o uso do pronome relativo “onde” quando não há ideia de lugar físico. “Onde” só retoma lugares.
* Errado:** “Vivemos em uma sociedade **onde os valores estão invertidos.”
* Por que errou? Sociedade não é um lugar físico (como uma praça ou casa), é um conceito abstrato/social.
* Certo:** “Vivemos em uma sociedade **em que** (ou **na qual) os valores estão invertidos.”
5. Regência do Verbo Haver
O verbo “haver”, no sentido de existir ou indicando tempo decorrido, é impessoal. Ele nunca vai para o plural. Parece básico, mas o nervosismo da prova faz muitos candidatos escreverem “Houveram problemas”.
* Errado:** “**Houveram diversas manifestações no ano passado.”
* Certo:** “**Houve diversas manifestações no ano passado.”
* Certo:** “**Existem diversas manifestações…” (O verbo existir tem sujeito e pluraliza normalmente).

Diferenças de Critério: Cebraspe vs. FGV
Entender quem vai corrigir sua prova é parte da estratégia.
* Cebraspe (Cespe): Valoriza muito a estrutura macrotextual (tópicos frasais bem definidos). Na microestrutura (gramática), a penalidade é matemática. Um texto com muitos erros, mesmo que legível, terá a nota drasticamente reduzida pela fórmula de cálculo.
* FGV: É mais semântica e interpretativa. Além da gramática pura, a FGV pune severamente a falta de clareza, o uso de vocabulário impreciso e problemas de coesão (uso errado de conectivos como “portanto”, “contudo”, “destarte”). Use conectivos apenas se tiver certeza absoluta do sentido.
Estratégias de Revisão para a Prova
Como garantir que esses erros não passem no dia do exame? Adote este checklist mental nos 5 minutos finais de prova:
1. Caça às Crases: Verifique cada “a” crasado. Faça a troca pelo masculino.
2. Radar do “Que”: Circule seus pronomes relativos. O verbo depois deles está concordando com o antecedente correto?
3. Teste do Sujeito: Localize o verbo e pergunte “quem?”. Verifique se há vírgulas proibidas entre eles.
4. Conectivos: O “mas” está opondo ideias? O “logo” está concluindo? Se houver dúvida, troque por um mais simples (porém, assim).
A excelência na norma culta não exige que você seja um gramático, mas sim um escritor atento e estratégico. Em concursos de alto nível, o “básico bem feito” supera o rebuscado cheio de falhas.
Autor: Mariana Sales é professora de Língua Portuguesa e Redação com mais de 10 anos de experiência em preparatórios para concursos públicos de alto nível (Receita Federal, Tribunais e Carreiras Policiais). Especialista em Linguística Aplicada, dedica-se a decodificar os critérios das bancas examinadoras para facilitar a aprovação de seus alunos.