Neste Artigo
- A Diferença Crucial entre Coesão e Coerência
- O “Fluxo Lógico” na Era da Leitura Digital e IA
- Técnicas Avançadas de Coesão Textual
- Coerência: A Arquitetura Invisível
- A Armadilha da IA na Redação Científica
- Próximos Passos para Sua Publicação
Você já sentiu a frustração de ter um artigo científico rejeitado ou devolvido com o comentário vago de que o texto “não flui” ou “carece de clareza lógica”? É uma dor comum e, muitas vezes, desanimadora. Você sabe que seus dados são sólidos e que sua descoberta é relevante, mas a barreira invisível da comunicação está impedindo que seu trabalho alcance o impacto que merece. Em 2025, com o volume de publicações acadêmicas atingindo níveis recordes e a leitura digital se tornando o padrão absoluto, a clareza textual não é apenas uma “boa prática” — é um requisito de sobrevivência.
Neste artigo, vamos dissecar a anatomia de um texto acadêmico de alta performance. Não falaremos apenas de gramática básica, mas da engenharia por trás de parágrafos que conduzem o leitor (e o revisor) exatamente para onde você deseja. Como consultor especialista em metodologia de pesquisa, vejo diariamente pesquisadores brilhantes tropeçarem na apresentação de suas ideias. Vamos corrigir isso agora.
A Diferença Crucial entre Coesão e Coerência
Muitos acadêmicos usam esses termos de forma intercambiável, mas no contexto da escrita científica rigorosa, eles operam em camadas distintas. Entender essa distinção é o primeiro passo para o diagnóstico do seu próprio texto.
A Coesão refere-se à superfície do texto. É a mecânica gramatical e lexical que conecta palavras e frases. Pense nela como a argamassa que une os tijolos. Envolve o uso correto de conectivos, pronomes anafóricos (que retomam termos anteriores) e a concordância gramatical.
A Coerência, por outro lado, é a estrutura profunda. É o projeto arquitetônico da casa. Um texto pode ser perfeitamente coeso (gramaticalmente conectado), mas totalmente incoerente se as ideias não seguirem uma progressão lógica ou se contradisserem. A coerência acontece na mente do leitor quando ele consegue construir um sentido global do que está lendo.

O Erro da “Salada de Conectivos”
Uma tendência preocupante observada em submissões recentes é o uso excessivo de conectivos (“Portanto”, “Contudo”, “Ademais”) na tentativa de forçar uma coesão que não existe nas ideias. Editores experientes percebem isso imediatamente. Se você precisa de um “No entanto” para conectar cada frase, provavelmente seu argumento não está estruturado logicamente. A verdadeira fluidez vem da progressão natural das ideias, não de uma colagem artificial de palavras de transição.
O “Fluxo Lógico” na Era da Leitura Digital e IA
Em 2024 e 2025, a forma como consumimos ciência mudou drasticamente. Editores e pares revisores frequentemente leem em telas, escaneando o texto em busca de palavras-chave e estrutura antes de se comprometerem com uma leitura profunda. Além disso, ferramentas de IA para triagem de manuscritos estão cada vez mais sensíveis à estrutura lógica do texto.
Para sobreviver a esse escrutínio, seu texto precisa de “escaneabilidade lógica”. Isso significa que a estrutura visual (títulos, subtítulos, início de parágrafos) deve contar a história da sua pesquisa por si só.
Técnicas Avançadas de Coesão Textual
Vamos elevar o nível. Esqueça as listas básicas de preposições. Aqui estão as técnicas que diferenciam a escrita amadora da profissional.
1. O Princípio “Dado e Novo” (Theme and Rheme)
Esta é a regra de ouro da coesão em inglês e português acadêmico. Cada frase deve começar com uma informação conhecida (dado) e terminar com uma informação nova (novo). A próxima frase deve pegar essa informação “nova” (que agora se tornou “dada”) e usá-la como trampolim para a próxima novidade.
Exemplo Ruim: “A análise de dados foi realizada. O software SPSS processou os resultados. Tendências significativas foram mostradas pelos gráficos.” (O foco salta de análise para software, depois para tendências).
Exemplo Otimizado: “A análise de dados foi realizada utilizando o software SPSS. Este software gerou gráficos que revelaram tendências significativas. Tais tendências indicam que…” (Observe o encadeamento: SPSS -> Este software -> tendências -> Tais tendências).
2. Referenciação Lexical Inteligente
Evite a repetição exaustiva do mesmo termo técnico, mas cuidado com sinônimos imprecisos. Na ciência, “criança”, “menor” e “infante” podem ter definições legais ou biológicas distintas. A técnica correta para 2025 é o uso de hiperônimos (termos mais gerais) ou rótulos de síntese.
- Em vez de: Repetir “A poluição atmosférica por material particulado fino” cinco vezes.
- Use: “Este fenômeno”, “O problema ambiental citado”, “Essa contaminação”.
3. Nominalização Estratégica
Transformar verbos em substantivos (nominalização) ajuda a compactar informações e melhorar a densidade do texto científico. Em vez de dizer “Nós observamos como as células reagiram e isso foi importante”, prefira “A observação da reação celular revelou-se crucial”. Isso torna o texto mais impessoal e focado no processo, características essenciais do estilo acadêmico formal.
Coerência: A Arquitetura Invisível
Se a coesão é o fio, a coerência é o tecido. Para garantir que seu revisor não se perca, você deve dominar a estrutura do parágrafo.
O Modelo “Topic Sentence” 2.0
Cada parágrafo deve ser uma mini-tese. A primeira frase (Tópico Frasal) não deve ser apenas uma introdução, mas uma afirmação que controla todo o conteúdo daquele bloco. Se você ler apenas as primeiras frases de cada parágrafo do seu artigo, elas devem formar um resumo coerente de todo o trabalho. Faça esse teste hoje mesmo.

Alinhamento Vertical e Horizontal
- Coerência Horizontal: A relação lógica entre parágrafos vizinhos. O parágrafo B é uma consequência, um contraste ou uma expansão do parágrafo A?
- Coerência Vertical: A relação de cada parágrafo com a tese central do artigo. Muitas vezes, escrevemos parágrafos interessantes que, infelizmente, não contribuem para provar a hipótese principal. Se não servem ao “mestre” (a pergunta de pesquisa), devem ser cortados, por mais bem escritos que sejam.
A Armadilha da IA na Redação Científica
É impossível falar de escrita em 2025 sem mencionar a Inteligência Artificial. Ferramentas como ChatGPT, Claude ou assistentes específicos como Paperpal e Scite são úteis para brainstorming e verificação gramatical. No entanto, elas frequentemente falham na coerência profunda.
A IA tende a criar textos “lisos” — gramaticalmente perfeitos, mas que andam em círculos ou repetem o óbvio. O toque humano na escrita científica reside na capacidade de fazer conexões inusitadas e defender um ponto de vista com nuances que a máquina ainda não compreende. Use a tecnologia para polir a coesão, mas nunca terceirize a arquitetura da sua coerência.
Próximos Passos para Sua Publicação
Dominar coesão e coerência não é um talento inato; é uma habilidade treinável. Ao revisar seu próximo manuscrito, adote o papel de um arquiteto, não apenas de um escritor. Verifique as fundações lógicas antes de pintar as paredes com adjetivos. Seus leitores — e os editores das revistas de alto impacto — agradecerão pela clareza.
Lembre-se: na ciência, a complexidade deve estar no objeto de estudo, nunca na explicação. A escrita clara é a forma suprema de respeito pelo intelecto do seu leitor.
Autor: Dr. Matheus Viana é consultor sênior em Escrita Científica e Metodologia de Pesquisa, com mais de 15 anos de experiência auxiliando pesquisadores a publicarem em revistas de alto impacto (Q1/Q2). Doutor em Linguística Aplicada com foco em Discurso Acadêmico, ele atua como revisor técnico e mentor de pós-graduação, especializando-se em estruturação lógica de argumentos científicos.