Neste Artigo
- O Que São Conectivos e Sua Função Estratégica
- Classificação dos Conectivos por Sentido (Com Exemplos Práticos)
- Estrutura de Conectivos para uma Redação Nota Máxima
- Erros Fatais: O Que Evitar na Hora da Prova
- A Importância dos Operadores Argumentativos no Enem e Concursos
- Prática Deliberada: Como Treinar
A coesão textual é, indiscutivelmente, um dos pilares mais rigorosos na avaliação de redações em 2025, seja para o Enem, CNU (Concurso Nacional Unificado) ou bancas tradicionais como Cebraspe e FGV. Muitos candidatos dominam o conteúdo, têm excelentes argumentos, mas falham na hora de costurar essas ideias. O resultado? Textos truncados, notas medianas e o sonho da aprovação adiado.
Como especialista em linguística aplicada a concursos, percebo que o maior erro não é a falta de vocabulário, mas o uso mecânico e artificial dos chamados “elementos de conexão”. Neste guia definitivo, não apenas listaremos os melhores conectivos; vamos dissecar a estratégia por trás da coesão referencial e sequencial, alinhada às tendências mais recentes das bancas examinadoras deste ano.
Entenda que o corretor não busca mais apenas a presença do conectivo, mas a pertinência dele. A “caça às palavras decoradas” é uma realidade nas correções de 2024 e 2025. Escrever “outrossim” ou “destarte” sem contexto pode, ironicamente, baixar sua nota ao invés de aumentá-la. Vamos aprender a fazer isso do jeito certo.
O Que São Conectivos e Sua Função Estratégica
Conectivos, ou operadores argumentativos, são palavras ou expressões que ligam frases, orações, períodos e parágrafos. Eles são a “cola” do seu texto. Sem eles, sua redação é apenas um amontoado de frases soltas. Na macroestrutura do texto dissertativo-argumentativo, eles desempenham duas funções vitais:
1. Coesão Interparágrafos: Ligam um parágrafo ao outro (ex: começar o desenvolvimento com “Em primeiro lugar…” e o seguinte com “Além disso…”).
2. Coesão Intraparágrafos: Ligam as orações dentro do mesmo parágrafo (ex: “…visto que o problema afeta…”).
A Nova Exigência das Bancas em 2025
Antigamente, bastava decorar uma lista de conjunções. Hoje, bancas como a FGV (responsável pelo CNU) e o Cebraspe avaliam a progressão textual. O conectivo precisa impulsionar o texto para frente, adicionando uma nova camada de sentido.
* Tendência Atual: Preferência por conectivos que demonstrem clareza e fluidez (ex: “nesse contexto”, “sob essa ótica”) em detrimento de termos arcaicos que soam artificiais.
Classificação dos Conectivos por Sentido (Com Exemplos Práticos)
Para facilitar seu estudo, categorizamos os conectivos pela relação lógica que estabelecem. Lembre-se: o sentido depende do contexto.
1. Prioridade e Relevância (Ideais para iniciar argumentos)
Usados para destacar seu argumento mais forte ou organizar a ordem de apresentação.
* Clássicos: Em primeiro lugar, primeiramente, antes de tudo.
* Nível Avançado: Sobretudo, mormente, a princípio, primordialmente.
* Exemplo:** *”**Sobretudo, é fundamental analisar a negligência estatal como causa do problema.”*
2. Adição e Continuação (Para somar argumentos)
Essenciais para o segundo parágrafo de desenvolvimento ou para unir duas ideias que apontam para a mesma direção.
* Clássicos: Além disso, também, e, nem.
* Nível Avançado: Ademais, outrossim (cuidado com o uso), somado a isso, não apenas… mas também, bem como.
* Exemplo:** *”**Ademais, a falta de investimentos em educação perpetua o ciclo de pobreza.”*
3. Oposição e Contraste (O “Mas” sofisticado)
Fundamentais para contra-argumentar ou apresentar um problema que contradiz uma expectativa.
* Clássicos: Mas, porém, contudo, todavia.
* Nível Avançado: Entretanto, no entanto, não obstante, inobstante, a despeito de, em contrapartida.
* Exemplo:** *”A lei existe há dez anos. **Entretanto, sua aplicação prática ainda é ineficiente.”*
4. Causa e Explicação
Obrigatórios dentro dos parágrafos de desenvolvimento para justificar suas afirmações.
* Clássicos: Porque, pois, já que.
* Nível Avançado: Visto que, uma vez que, porquanto, haja vista, em virtude de, devido a.
* Exemplo:** *”O cenário persiste **haja vista a impunidade que protege os agressores.”*
5. Conclusão e Desfecho
Usados para fechar raciocínios ou iniciar o parágrafo de conclusão.
* Clássicos: Portanto, logo, então.
* Nível Avançado: Dessa forma, destarte (uso moderado), assim, por conseguinte, em suma, logo.
* Dica de Ouro: Evite começar a conclusão sempre com “Conclui-se que”. Prefira “Portanto, medidas são necessárias…” ou “Dessa forma, é urgente que…”.
Estrutura de Conectivos para uma Redação Nota Máxima
Uma redação bem estruturada segue um esqueleto lógico. Abaixo, apresento uma sugestão de alocação de conectivos que atende aos critérios de correção mais exigentes de 2025.
Introdução
Na introdução, os conectivos são usados internamente para ligar a contextualização à tese.
* *Sugestões:* Nesse sentido, fora desse contexto (para contrastar), nessa perspectiva.
Desenvolvimento 1 (D1)
O foco aqui é apresentar o primeiro argumento base.
* Início do parágrafo: Em primeiro plano, A princípio, Diante desse cenário.
* Meio do parágrafo (intra): Visto que, pois, tal como.
Desenvolvimento 2 (D2)
Aqui você precisa somar ou contrastar com o D1.
* Início do parágrafo: Além disso (adição), Por outro lado (oposição), Outrossim (adição).
* Meio do parágrafo (intra): Consequentemente, isso ocorre porque, em decorrência de.
Conclusão
O fechamento deve retomar a tese e propor solução ou síntese.
* Início do parágrafo: Portanto, Dessa forma, Por conseguinte.
* Meio do parágrafo (intra): A fim de, com o intuito de, para que.
Erros Fatais: O Que Evitar na Hora da Prova
Baseado nas diretrizes de correção de bancas como a Vunesp e Cebraspe, identifiquei os erros que mais penalizam os candidatos na competência de Coesão.
1. O Vício do “Mesmo”
Evite usar “o mesmo” ou “a mesma” para retomar substantivos (ex: “Vi a pessoa e chamei a mesma”). Isso é considerado erro de coesão referencial. Use pronomes: “Vi a pessoa e a** chamei” ou “chamei **ela” (na oralidade, mas na escrita formal prefira os pronomes oblíquos).
2. Conectivos sem Função (Encheção de Linguiça)
Usar “Sabe-se que” ou “É notório que” excessivamente pode ser visto como *thin content* (conteúdo raso). Use operadores que realmente adicionem valor argumentativo.
3. Repetição Excessiva
Não use “Portanto” três vezes no mesmo texto. Varie seu repertório. Se usou “visto que” no D1, use “uma vez que” no D2. A riqueza vocabular é um critério de desempate.
4. Uso Equivocado de Sentido
Um erro clássico é confundir “contudo” (oposição) com “conquanto” (concessão) ou “portanto” (conclusão).
* *Errado:* “Ele estudou muito, portanto não passou.” (Incoerente)
* *Certo:* “Ele estudou muito, contudo não passou.”
A Importância dos Operadores Argumentativos no Enem e Concursos
No Enem, a Competência 4 avalia especificamente o conhecimento dos mecanismos linguísticos. A exigência é o uso diversificado de operadores argumentativos, com raríssimas repetições. Já em concursos como o da Polícia Federal ou Tribunais, a falta de coesão pode tornar o texto confuso, levando a penalizações graves no critério de clareza e coerência.
Dica Avançada: Coesão Referencial
Além dos conectivos (conjunções), use a coesão referencial para evitar repetições de palavras. Isso inclui o uso de:
* Sinônimos: Em vez de repetir “escola”, use “instituição de ensino”, “ambiente escolar”.
* Pronomes:** “O Governo Federal deve atuar… **Ele possui a verba necessária…”
* Elipses: Omissão de termos que já foram citados e são entendidos pelo contexto.
Prática Deliberada: Como Treinar
Não adianta apenas ler esta lista. A fluidez vem com a prática. Ao escrever sua próxima redação, faça o seguinte exercício:
1. Grife todos os conectivos que utilizou.
2. Verifique se há repetições.
3. Troque pelo menos dois conectivos “comuns” por versões mais precisas (ex: trocar “mas” por “entretanto”).
4. Certifique-se de que há pelo menos um operador argumentativo ligando os parágrafos entre si (exceto a introdução).
Dominar os conectivos é dominar a arte de guiar o leitor pelo seu raciocínio. Um texto coeso é um texto persuasivo, seguro e, invariavelmente, um texto aprovado.
Autor: Prof. Carlos Mendes é especialista em Língua Portuguesa e Redação para Concursos Públicos e Vestibulares há mais de 15 anos. Com formação em Letras pela USP e pós-graduação em Linguística Aplicada, já atuou como corretor em grandes bancas examinadoras. Atualmente, dedica-se a desmistificar a escrita formal, ajudando milhares de estudantes a alcançarem a nota máxima através de métodos práticos e focados nas tendências educacionais atuais.